Imigrantes no Paraná são 40% mulheres e maioria veio da Venezuela 26/10/2022 - 16:18

O Brasil é um dos lugares mais acolhedores do mundo para receber imigrantes e refugiados não apenas no quesito hospitalidade da população, mas, principalmente, pela flexibilidade legal. Desde 2017, com a Lei do Imigrante (nº 13.445/2017), o Brasil possibilitou uma chance de recomeço para essa população.

No Paraná, existem mais de 120 mil imigrantes, sendo que 40% deles são mulheres, conforme estimativa do Centro Estadual de Informação para Migrantes, Refugiados e Apátridas do Estado do Paraná (CEIM).

A maioria delas é mãe, tem entre 20 a 39 anos, possuem segundo grau completo e muitas são graduadas. Chegaram aqui em um momento de extrema vulnerabilidade, sem ter acesso aos materiais básicos de higiene e alimentação em seus países de origem.

Grande parte das imigrantes vem da Venezuela a pé até a fronteira de Roraima, passando por diversos perigos, como estupro e até a morte no caminho devido ao cansaço e fraqueza. Outros imigrantes, no geral, vêm também do Afeganistão, Cuba, Ucrânia, Haiti etc. O Paraná já recebeu imigrantes de cerca de 60 países diferentes.

O estado do Paraná é o único no País com uma Central criada para ajudar essas pessoas a legalizarem sua situação e fornecer demais orientações. Normalmente, esse serviço fica a cargo de prefeituras. O CEIM existe há seis anos e já atendeu mais de 27 mil imigrantes.

Com a documentação regularizada, essas mulheres (e demais imigrantes) passam a ter acesso a trabalho, saúde e educação, além de cesta básica, cobertores e demais itens básicos. “Aqueles que chegam ao Brasil, precisam de uma acolhida humanitária para retomar sua dignidade. São pessoas perseguidas ou que estão em situação precária. Esses imigrantes não são como os brasileiros que saem daqui em busca de fazer uma reserva financeira. Já recebemos pessoas que não viam um sabonete, papel higiênico, carne, há mais de seis anos”, explica a responsável técnica do CEIM, Kelly Letchakowski.

Da Venezuela para o Paraná

Atualmente, chegam no Paraná cerca de 150 imigrantes por semana vindos da Venezuela, e 40% são mulheres. Como no país vizinho as pessoas não costumam formalizar suas uniões, a maioria se declara solteira. Contudo, 50% dessas mulheres estão em um relacionamento, com família constituída.

A venezuelana Roselina Barre, 43 anos, chegou ao Paraná há três anos com a família, com o avião da Força Aérea Brasileira (FAB), e outra parte dos parentes ficou em Roraima. Sua principal dificuldade quando chegou ao País foi conseguir moradia e emprego. Hoje, ela está em Toledo. “Aqui as pessoas são acolhedoras, trabalhadoras, otimistas e muito gente boa. Meu sonho é ser confeiteira e ver meus filhos se formando em uma boa faculdade aqui no Brasil”, diz Roselina, em um vídeo enviado ao CEIM.

O Paraná é um dos estados com mais oportunidade de empregos, além de possuir o melhor salário-mínimo regional do País e uma baixa criminalidade, pontos que seriam atração para novos moradores. Segundo Kelly, a regularização da situação dos imigrantes é benéfica para todos, pois há setores que têm muita dificuldade de conseguir mão de obra. No caso das mulheres, o cargo mais comum ocupado por elas é auxiliar de cozinha. “Com o trabalho, elas reconstroem suas vidas e, muitas vezes, ajudam suas famílias, que passam por todo tipo de privação no País em que vivem”, explica. Já os homens, costumam trabalhar em indústrias, frigoríficos e em processadoras de alimentos.

O trâmite para conseguir ajudar suas famílias fora do Brasil pode ser outro processo doloroso e complicado para alguns imigrantes. Países como Venezuela e Cuba não permitem o recebimento de dinheiro pelos bancos. Com isso, essas famílias precisam de outras formas alternativas de envio.

Ucrânia

A grande maioria dos refugiados ucranianos que vem para o Brasil são mulheres. Os homens são obrigados a ficar no País para o serviço militar na guerra contra a Rússia.

O grupo de pessoas que chegou no Paraná com toda uma estrutura pronta, com moradia e tudo que precisaria para passar um ano no Brasil.

Contudo, boa parte dessas refugiadas já voltou para o seu país de origem. É o que explica a chefe da Divisão de Políticas Públicas para Imigrantes, Refugiados e Apátridas, da Secretaria da Justiça, Família e Trabalho (Sejuf), Ana Felicia Bodstein.

Ana ressalta que as ucranianas não entraram no país com a classificação de refugiadas. Isso implicaria em restrições diplomáticas como o fato de não poderem sair do Brasil quando quisessem. Com isso, mesmo na condição de refúgio, as ucranianas e refugiados de outros países (também por perseguição religiosa) permanecem com o visto humanitário, que permite mais liberdade de locomoção, apesar de não ter a proteção do Estado Brasileiro.

Sem a família completa e vendo que a situação tinha melhorado um pouco na Ucrânia, as imigrantes decidiram voltar para casa, mas as portas do Brasil permanecem abertas para o caso de retornarem.

Regularização

Hoje em dia, a regularização da situação dos imigrantes costuma ser simples. A Lei do Imigrante permite uma acolhida a todos que buscam um recomeço. Muitas venezuelanas já chegam no Paraná com um encaminhamento de trabalho ou têm algum conhecido ou familiar na cidade que lhe dará acolhimento. A venezuelana Zuly Bueno, por exemplo, mestre em Estatística Matemática, se inscreveu em um site de emprego e conseguiu uma oportunidade.

“A empresa precisava de um estatístico para trabalhar no setor de pesquisa. Mas eu não tinha como fazer a inscrição diretamente no site de emprego. Então, liguei no RH e falei diretamente com eles, que permitiram que eu enviasse meu currículo por e-mail. Eles gostaram do meu currículo e, dois meses depois, disseram que a vaga era minha, e esperavam um mês para que eu ocupasse o posto”, conta Zuly, em um vídeo enviado ao CEIM.

Zuly diz que foi difícil deixar seu país e sua família. “Quero seguir avançando. Trabalhando. Sempre é preciso trabalhar. Se uma porta se abre, tem que entrar. Agradeço a todas as pessoas que acreditaram em mim”, comemora.

Outras instituições que também ajudam nesse processo de regularização da situação no País são a Polícia Federal, por meio da Delegacia de Polícia de Imigração (Passaportes/Imigrantes) (DELEMIG), e a Universidade Federal do Paraná, pela Política Migratória e a Universidade Brasileira, um programa de extensão que tem como principal objetivo o acolhimento de migrantes e refugiados em Curitiba e região.