Mulheres ainda são minoria entre bandas de Rock 09/11/2022 - 13:42
As mulheres ainda são minoria no cenário musical em todo o Brasil, e um dos estilos com essa realidade mais visível é o Rock. É mais raro encontrar integrantes ou bandas femininas nesse universo, do que na modalidade sertaneja, que tem crescido nos últimos anos com o protagonismo feminino. Mas, em todos os gêneros, elas têm provado que são talentosas e que só precisam de espaço para mostrar um bom trabalho.
O coletivo União das Mulheres do Underground Brasil realizou uma pesquisa entre março de 2017 e março de 2021 sobre a presença feminina em bandas de Rock e suas vertentes na cena independente brasileira. E nessa análise conseguimos alguns números também referentes ao Paraná, tendo Curitiba como a terceira cidade do País com mais bandas com garotas, somando 35 (5,3% do total), atrás de São Paulo, com 158 (24,1%), e Rio de Janeiro, com 41 (6,3%), dentro do número total no País de 654 grupos.
Angélica María Castellanos Correa, mais conhecida como Angie Ramms, co-fundadora de LVNA, página de divulgação da cena metal nacional feminina e festival underground, acredita que a representatividade feminina nas bandas tem um efeito significativo para as gerações. “Quanto mais mulheres ocupam espaços, mais mulheres almejam ser como elas e chegar lá também. Na minha opinião, nos últimos anos, as mulheres que participam de bandas têm aparecido mais e ganhado destaque por diversos motivos. Isso tem despertado o interesse de outras meninas e mulheres para ocupar esses mesmos espaços”, avalia.
Dos 5.570 municípios brasileiros, encontramos bandas com mulheres em apenas 142 cidades, mas marcam presença em 26 estados federativos, conforme a pesquisa do coletivo. Do total de bandas analisadas, a maioria das mulheres está prioritariamente nos vocais, são 515 (79%). Em seguida vêm as 180 baixistas (27%), 143 guitarristas (22%), 64 bateristas (9.8%) e 21 tecladistas (3.2%). Apenas 51 conjuntos são all female, ou seja, formados apenas por mulheres. Essas especificidades não foram divididas por estado.
“O ‘ambiente de banda’ (ensaios, shows, eventos etc) ainda é visto como um ambiente masculino, onde a mulher somente pode ter função de acompanhante ou enfeite. Exemplo disso é que maioria das musicistas já tem sido chamada de ‘namorada do cara da banda’, mesmo sendo integrante, só por ser mulher”, ressalta Angie, que também é vocalista, tradutora, LGBTQI+ e roadie argentina.
A profissional lembra ainda que quanto mais longe do padrão a mulher está, mais difícil fica ganhar espaço. Esse seria o caso de mulheres negras, gordas, mais velhas, mulheres com filhos, com deficiência etc. E quanto mais extremo (pesado) o estilo, menos mulheres são encontradas dentro das bandas. “Duas representantes curitibanas que contam com reconhecimento a nível nacional dentro do estilo, sendo ambas vocalistas de metal extremo, são Tati Klingel (das bandas Humanal e Diagora) e Larissa Pires (Ethel Hunter)”, cita.
Angie lembra ainda que as mulheres que sobem no palco são uma parte do movimento. “Quem está envolvida na cena sabe que aos poucos estamos conquistando mais espaço também no backstage com assessoras de imprensa, organizadoras de eventos underground, produtoras, roadies, técnicas de som, mesmo que muito poucas, como também no público. Isso é importantíssimo e sabemos que está crescendo.”
Um espaço que incentiva o surgimento de novas bandas femininas é o Rock Camp Curitiba, que acontece todo ano, e o próximo será em 2023. No evento, as pessoas campistas aprendem a tocar, ensaiam e se apresentam no prazo de uma semana. E 50% das vagas são sociais, sem custo. O Camp tem uma versão para crianças de 7 a 17 anos e uma para adultos, a partir de 18.
“Acredito que a educação e o empoderamento, aliados a ações afirmativas, são o caminho para que esse cenário mude o quanto antes. Redes de apoio, programas inclusivos, políticas públicas de acesso, coletivos e demais ações voltadas a dar às mulheres o acesso a ocupar cada vez mais espaços são fundamentais neste sentido”, finaliza Angie.